CITAÇÃO DO DIA

Não apequene para caber onde você transborda.

Postagem em destaque

VARIAÇÃO LINGUÍSTICA

  Os tipos de variação linguística são: geográficas, históricas, sociais e situacionais. Variação regional ou geográfica (diatópica) : ocorr...

segunda-feira, 6 de março de 2023

Classicismo

 

Contexto histórico do Contexto histórico do classicismo

Classicismo é o nome atribuído à literatura que foi produzida no contexto de vigência do Renascimento, amplo movimento artístico, cultural e científico que ocorreu no século XVI, inspirado na cultura clássica greco-latina.

O contexto histórico que propiciou o surgimento do Renascimento foi marcado por uma série de acontecimentos, como as navegações e os descobrimentos, no final do século XV; a formação dos Estados modernos; a Reforma Protestante, em 1517; a Revolução Comercial, iniciada no século XV; o fortalecimento da burguesia comercial, entre outros acontecimentos que acentuaram o declínio da Idade Média, dando origem à Era Moderna.

Leonardo da Vinci (1452-1519), um dos principais intelectuais do Renascimento.
Leonardo da Vinci (1452-1519), um dos principais intelectuais do Renascimento.

    interesse pela cultura clássica já vinha ocorrendo desde o final do século XIII, na Itália, onde escritores e intelectuais, como Dante Alighieri, Petrarca e Boccaccio, chamados humanistas, liam e traduziam autores latinos e gregos.

    Dante Alighieri, autor de Divina Comédia, criou a medida nova, modo de se fazer poemas a partir de versos decassílabos, deixando para trás as redondilhas medievais, que passaram a ser categorizadas como “medida velha”Ainda nesse contexto de surgimento dos ideais humanistas na literatura, teve papel de destaque o poeta italiano Petrarca, que se tornou referência na composição de sonetos ao publicar 350 poemas, a maior parte sonetos, em seu Cancioneiro.

    O soneto italiano, difundido por Petrarca, é uma forma fixa que consiste de quatro estrofes, dispostas da seguinte forma: a primeira e a segunda possuem quatro versos; a terceira e a quarta, três versos. Nesses sonetos, Petrarca cantava o amor platônico, restrito ao plano das ideias, por Laura, sua musa. Boccaccio destacou-se pela escrita da obra em prosa intitulada Decameron, conjunto de narrativas curtas e picantes que retratavam criticamente a realidade europeia.

    Essas transformações, iniciadas pelos humanistas no século XIII, foram intensificando-se e, gradualmente, propiciando o clima ideal para que, no século XVI, surgisse o classicismo. Esse importante movimento artístico floresceu em um contexto histórico de profundas transformações sociais, econômicas, culturais e religiosas, momento em que a fé medieval foi substituída pela razão; o cristianismo, pela mitologia greco-latina; e o teocentrismo, pelo antropocentrismo.

    Diferentemente do homem medieval, que se voltava essencialmente para as coisas do espírito, o homem do século XVI, sob o ideário do classicismo, voltou-se para a realidade concreta e acreditava em sua capacidade de dominar e transformar o mundo que o cercava.

    Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

      Principais características do classicismo

      O classicismo, em relação à temática de suas obras, teve como características principais a idealização amorosa, o que se dava a partir do cultivo do neoplatonismo; o predomínio da razão, como uma inspiração humanista advinda da crença na ciência; o cultivo do paganismo, influência da cultura greco-romana; a valorização do antropocentrismo, conceito em que o homem é visto como o centro do universo, o que se contrapunha à crença teocêntrica que vigorou na Idade Média; o desenvolvimento de uma perspectiva universalista acerca da realidade; a busca pela clareza e pelo equilíbrio de ideias; e o gosto pelo nacionalismo em um contexto de intensas investidas comerciais a outros territórios a partir das navegações.

      Quanto aos aspectos formais, o classicismo teve forte apreço pelo soneto, cultivando-o e difundindo-o como modelo de poema a ser escrito. Além do soneto, os poetas filiados ao classicismo valorizavam a imitação das formas clássicas, visando ao equilíbrio formal, além do emprego da medida nova, como um contraponto à medida velha cultivada na Idade Média.

      Veja também: Parnasianismo no Brasil – movimento que resgatou características do classicismo

      Classicismo em Portugal

        O classicismo em Portugal, assim como o desenvolvido em outros países da Europa, valorizou temáticas neoplatônicas, vinculadas à concepção de amor teorizada por Platão na Grécia Antiga, segundo a qual o amor se concretizaria somente no plano das ideias, e não a partir da matéria carnal. Porém, em razão do forte contexto de navegações e de expansões territoriais vivido por Portugal no período do classicismo, esse movimento artístico no país valorizou, sobretudo, o aspecto nacionalista, já que os grandes feitos nacionais, como as conquistas do povo português, foram exaltados na poesia épica de Luís Vaz de Camões.

        Principais autores do classicismo em Portugal

        • Francisco de Sá de Miranda

        Sá de Miranda foi o introdutor do verso decassílabo em Portugal
        Sá de Miranda foi o introdutor do verso decassílabo em Portugal

        Pioneiro do classicismo em Portugal, Sá de Miranda nasceu em Coimbra, em 1481, e morreu em Amares, interior do território português, em 1558. Fez Direito na Universidade de Lisboa e frequentou a Corte até 1521, data em que partiu para a Itália. Regressou a Portugal em 1526, depois de grande convívio com escritores e artistas italianos.

        Foi o responsável por introduzir o verso decassílabo em Portugal, ou seja, o verso constituído por dez sílabas métricas. Além disso, foi pioneiro na composição de sextinas, tercetos e oitavas, influenciando muitos outros poetas. Leia um de seus sonetos:

        SONETO 17

        Este retrato vosso é o sinal
        ao longe do que sois, por desamparo
        destes olhos de cá, porque um tão claro
        lume não pode ser vista mortal.

        Quem tirou nunca o sol por natural?
        Nem viu, se nuvens não fazem reparo,
        em noite escura ao longe aceso um faro?
        Agora se não vê, ora vê mal.

        Para uns tais olhos, que ninguém espera
        de face a face, gram remédio fora
        acertar o pintor ver-vos sorrindo.

        Mas inda assim não sei que ele fizera,
        que a graça em vós não dorme em nenhuma hora.
        Falando que fará? Que fará rindo?

        Nesse soneto, escrito ao modo petrarquiano, com rimas ABBA nos dois quartetos, o poeta expressa a voz de um eu lírico que, tendo da sua amada apenas um retrato como lembrança, dirige-lhe a interlocução, sem, no entanto, obter resposta. Assim como em outros sonetos do autor sobre temática amorosa, nota-se nesses versos a presença do amor platônico, o qual só tem existência espiritual.
        Acesse também: 5 de maio – Dia da Língua Portuguesa e da Cultura Lusófona

        • Luís Vaz de Camões

        Considerado o mais importante escritor de língua portuguesa, Camões foi o nome mais expressivo do classicismo português. Por serem muito escassos os documentos referentes à vida de Luís Vaz de Camões, estima-se que ele tenha nascido ou em 1524 ou em 1525, em Lisboa, capital de Portugal. Teria cursado Artes no Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra. Ainda jovem, ingressou na carreira militar, tendo servido em Marrocos, onde perdeu o olho direito. Morreu em 1580, em situação de extrema pobreza. Para saber mais sobre a vida e a obra desse autor português, leia: Luís Vaz de Camões.

        • Principais obras de Camões

        → Os Lusíadas

        Selo português em homenagem à obra Os Lusíadas.
        Selo português em homenagem à obra Os Lusíadas.

        Sua obra-prima foi o poema épico Os Lusíadas, publicado em 1572 e estruturado em 10 cantos, nos quais distribuem-se 8.816 versos em oitava rima. Aos moldes das epopeias clássicas, como Odisseia e Ilíada, o poema de Camões contém proposição, invocação, dedicatória, narração e epílogo.

        Narram-se, ao longo dos 10 cantos, os feitos heroicos dos portugueses, os quais, em 1498, lançaram-se ao mar em busca de expansão comercial e territorial, liderados por Vasco da Gama, comandante da expedição que descobriu o caminho para as Índias. Leia a estrofe 3 do Canto I:

        Canto I

        Cessem do sábio Grego e do Troiano
        As navegações grandes que fizeram;
        Cale-se de Alexandro e de Trajano
        A fama das vitórias que tiveram;
        Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
        A quem Neptuno e Marte obedeceram:
        Cesse tudo o que a Musa antígua canta,
        Que outro valor mais alto se alevanta.

        Última estrofe da proposição, tem-se nesses verses a exaltação da empreitada marítima portuguesa, considerada pelo poeta superior às navegações empreendidas pelos gregos, pelo imperador Alexandre, por Trajano. Além dessa comparação que coloca em superioridade os lusitanos, notam-se nesses versos referências à mitologia greco-romana, característica fundamental do classicismo.

        • Poesia

        Na poesia lírica, Camões escreveu poemas em medida velha (redondilhas) e poemas em medida nova (decassílabos), influência dos humanistas italianos, principalmente do poeta Petrarca (1304-1374). Em relação à temáticaseus poemas expressam temas ligados ao neoplatonismo amoroso, à reflexão filosófica e à natureza.

        Quem vê, Senhora, claro e manifesto
        o lindo ser de vossos olhos belos,
        se não perder a vista só em vê-los,
        já não paga o que deve a vosso gesto.

        Este me parecia preço honesto;
        mas eu, por de vantagem merecê-los,
        dei mais a vida e alma por querê-los,
        donde já me não fica a mais de resto.

        Assim que a vida e alma e esperança
        e tudo quanto tenho, tudo é vosso,
        e o proveito disso eu só o levo.

        Porque é tamanha bem-aventurança
        O dar-vos quanto tenho e quanto posso
        Que, quanto mais vos pago, mais vos devo.

        Nesse soneto, o eu lírico tem como interlocutora uma mulher, tratada por “Senhora”, a quem dirige seu devoto amor. Esse amor, porém, parece não ser materializado, ficando restrito ao plano das ideias, ou seja, é um amor platônico. A voz poética expressa sua constante atitude de renúncia e sacrifício em prol desse amor, mas não espera nada em troca, a não ser a satisfação de sempre se ver na necessidade de prestar honras a esse amor.

        Veja também: Verso, estrofe e rima – elementos fundamentais das obras líricas e épicas de Camões

        Exercícios resolvidos

        Questão 1 - (Unama - 2012)

          Sete anos de pastor Jacó servia
          Labão, pai de Raquel, serrana bela;
          Mas não servia ao pai, servia a ela,
          E a ela só por prêmio pretendia.

          Os dias, na esperança de um só dia,
          Passava, contentando-se com vê-la;
          Porém o pai, usando de cautela,
          Em lugar de Raquel lhe dava Lia.

          Vendo o triste pastor que com enganos
          Lhe fora assim negada a sua pastora,
          Como se a não tivera merecida,

          Começa de servir outros sete anos,
          Dizendo: – Mais servira, se não fora
          Para tão longo amor tão curta a vida!

          (Luiz Vaz de Camões, 1524-1580)

          Pela manhã, viu Jacó que tinha ficado com Lia. E disse a Labão: "Que me fizeste? Não foi por Raquel que te servi? Por que me enganaste?"

          (Gênesis, 29: 15-30)

          Per Rachel ho servito e non por Lia.

          (Petrarca, poeta humanista, 1307-1374)

          Os fragmentos dos textos do Gênesis e de Petrarca, numa relação intertextual com o poema de Camões, evidenciam que o poeta português segue o princípio da imitação e aceitação de modelos preexistentes bíblicos, greco-latinos ou humanistas. A esse fenômeno artístico da época camoniana chamamos de

          a) religiosidade.
          b) antiguidade.
          c) racionalidade.
          d) formalismo.
          e) emulação.

          Resolução

          Alternativa “e”. O princípio da imitação de autores antigos consagrados, no Renascimento, é chamado de imitatio ou emulação.

          Questão 2 - (UEL)

          E vê do mundo todo os principais.
          Que nenhum no bem público imagina;
          Vê neles que não têm amor a mais
          Que a si somente, e a quem Filáucia ensina.
          Vê que esses que frequentam os reais
          Paços, por verdadeira e sã doutrina
          Vendem adulação, que mal consente

          Mondar-se o novo trigo florescente.
          Vê que aqueles que devem à pobreza
          Amor divino e ao povo caridade,
          Amam somente mandos e riqueza,
          Simulando justiça e integridade.
          Da feia tirania e de aspereza
          Fazem direito e vã severidade:
          Leis em favor do Rei se estabelecem,
          As em favor do povo só perecem.

          (CAMÕES, L. de. Os lusíadas. Obras. Porto: Lello & Irmão, 1970. p. 1344-1345.)

          Filáucia = amor-próprio

          Mondar = limpar

          O poema de Camões trata de uma circunstância fundamental para os povos de todos os momentos – a moral dos homens públicos.

          Assinale a alternativa que contempla as falhas morais consideradas pelo poeta.

          a) Ganância, gula e devassidão.

          b) Desconsideração, injustiça e autopromoção.

          c) Orgulho, inveja e egoísmo.

          d) Injustiça, egoísmo e fraude.

          e) Cobiça, orgulho e preguiça.

          Resolução

          Alternativa D. O texto menciona claramente os vícios da injustiça: "Leis em favor do Rei se estabelecem / As em favor do povo só perecem"; do egoísmo: "Vê neles que não têm amor a mais / Que a si somente, e a quem Filáucia ensina."; e da fraude: "Vê que esses que frequentam os reais/ Paços, por verdadeira e sã doutrina / Vendem adulação".

          Questão 3 - (Enem - 2010)

          Texto I

          XLI
          Ouvia:
          Que não podia odiar
          E nem temer
          Porque tu eras eu.
          E como seria
          Odiar a mim mesma
          E a mim mesma temer.
          HILST, H. Cantares. São Paulo: Globo, 2004 (fragmento).

          Texto II

          Transforma-se o amador na cousa amada
          Transforma-se o amador na cousa amada,
          por virtude do muito imaginar;
          não tenho, logo, mais que desejar,
          pois em mim tenho a parte desejada.
          Camões. Sonetos. Disponível em: http://www.jornaldepoesia.jor.br. Acesso em: 03 set. 2010 (fragmento).

          Nesses fragmentos de poemas de Hilda Hilst e de Camões, a temática comum é

          a) o “outro” transformado no próprio eu lírico, o que se realiza por meio de uma espécie de fusão de dois seres em um só.

          b) a fusão do “outro” com o eu lírico, havendo, nos versos de Hilda Hilst, a afirmação do eu lírico de que odeia a si mesmo.

          c) o “outro” que se confunde com o eu lírico, verificando-se, porém, nos versos de Camões, certa resistência do ser amado.

          d) a dissociação entre o “outro” e o eu lírico, porque o ódio ou o amor se produzem no imaginário, sem a realização concreta.

          e) o “outro” que se associa ao eu lírico, sendo tratados, nos Textos I e II, respectivamente, o ódio e o amor.

          Resolução

          Alternativa A.

          Crédito da imagem

          [1] IgorGolovniov / Shutterstock

          Classicismo é o nome atribuído à literatura que foi produzida no contexto de vigência do Renascimento, amplo movimento artístico, cultural e científico que ocorreu no século XVI, inspirado na cultura clássica greco-latina.

          O contexto histórico que propiciou o surgimento do Renascimento foi marcado por uma série de acontecimentos, como as navegações e os descobrimentos, no final do século XV; a formação dos Estados modernos; a Reforma Protestante, em 1517; a Revolução Comercial, iniciada no século XV; o fortalecimento da burguesia comercial, entre outros acontecimentos que acentuaram o declínio da Idade Média, dando origem à Era Moderna.

          Leonardo da Vinci (1452-1519), um dos principais intelectuais do Renascimento.
          Leonardo da Vinci (1452-1519), um dos principais intelectuais do Renascimento.

            interesse pela cultura clássica já vinha ocorrendo desde o final do século XIII, na Itália, onde escritores e intelectuais, como Dante Alighieri, Petrarca e Boccaccio, chamados humanistas, liam e traduziam autores latinos e gregos.

            Dante Alighieri, autor de Divina Comédia, criou a medida nova, modo de se fazer poemas a partir de versos decassílabos, deixando para trás as redondilhas medievais, que passaram a ser categorizadas como “medida velha”Ainda nesse contexto de surgimento dos ideais humanistas na literatura, teve papel de destaque o poeta italiano Petrarca, que se tornou referência na composição de sonetos ao publicar 350 poemas, a maior parte sonetos, em seu Cancioneiro.

            O soneto italiano, difundido por Petrarca, é uma forma fixa que consiste de quatro estrofes, dispostas da seguinte forma: a primeira e a segunda possuem quatro versos; a terceira e a quarta, três versos. Nesses sonetos, Petrarca cantava o amor platônico, restrito ao plano das ideias, por Laura, sua musa. Boccaccio destacou-se pela escrita da obra em prosa intitulada Decameron, conjunto de narrativas curtas e picantes que retratavam criticamente a realidade europeia.

            Essas transformações, iniciadas pelos humanistas no século XIII, foram intensificando-se e, gradualmente, propiciando o clima ideal para que, no século XVI, surgisse o classicismo. Esse importante movimento artístico floresceu em um contexto histórico de profundas transformações sociais, econômicas, culturais e religiosas, momento em que a fé medieval foi substituída pela razão; o cristianismo, pela mitologia greco-latina; e o teocentrismo, pelo antropocentrismo.

            Diferentemente do homem medieval, que se voltava essencialmente para as coisas do espírito, o homem do século XVI, sob o ideário do classicismo, voltou-se para a realidade concreta e acreditava em sua capacidade de dominar e transformar o mundo que o cercava.

            Principais características do classicismo

            O classicismo, em relação à temática de suas obras, teve como características principais a idealização amorosa, o que se dava a partir do cultivo do neoplatonismo; o predomínio da razão, como uma inspiração humanista advinda da crença na ciência; o cultivo do paganismo, influência da cultura greco-romana; a valorização do antropocentrismo, conceito em que o homem é visto como o centro do universo, o que se contrapunha à crença teocêntrica que vigorou na Idade Média; o desenvolvimento de uma perspectiva universalista acerca da realidade; a busca pela clareza e pelo equilíbrio de ideias; e o gosto pelo nacionalismo em um contexto de intensas investidas comerciais a outros territórios a partir das navegações.

            Quanto aos aspectos formais, o classicismo teve forte apreço pelo soneto, cultivando-o e difundindo-o como modelo de poema a ser escrito. Além do soneto, os poetas filiados ao classicismo valorizavam a imitação das formas clássicas, visando ao equilíbrio formal, além do emprego da medida nova, como um contraponto à medida velha cultivada na Idade Média.

            Veja também: Parnasianismo no Brasil – movimento que resgatou características do classicismo

            Classicismo em Portugal

              O classicismo em Portugal, assim como o desenvolvido em outros países da Europa, valorizou temáticas neoplatônicas, vinculadas à concepção de amor teorizada por Platão na Grécia Antiga, segundo a qual o amor se concretizaria somente no plano das ideias, e não a partir da matéria carnal. Porém, em razão do forte contexto de navegações e de expansões territoriais vivido por Portugal no período do classicismo, esse movimento artístico no país valorizou, sobretudo, o aspecto nacionalista, já que os grandes feitos nacionais, como as conquistas do povo português, foram exaltados na poesia épica de Luís Vaz de Camões.

              Principais autores do classicismo em Portugal

              • Francisco de Sá de Miranda

              Sá de Miranda foi o introdutor do verso decassílabo em Portugal
              Sá de Miranda foi o introdutor do verso decassílabo em Portugal

              Pioneiro do classicismo em Portugal, Sá de Miranda nasceu em Coimbra, em 1481, e morreu em Amares, interior do território português, em 1558. Fez Direito na Universidade de Lisboa e frequentou a Corte até 1521, data em que partiu para a Itália. Regressou a Portugal em 1526, depois de grande convívio com escritores e artistas italianos.

              Foi o responsável por introduzir o verso decassílabo em Portugal, ou seja, o verso constituído por dez sílabas métricas. Além disso, foi pioneiro na composição de sextinas, tercetos e oitavas, influenciando muitos outros poetas. Leia um de seus sonetos:

              SONETO 17

              Este retrato vosso é o sinal
              ao longe do que sois, por desamparo
              destes olhos de cá, porque um tão claro
              lume não pode ser vista mortal.

              Quem tirou nunca o sol por natural?
              Nem viu, se nuvens não fazem reparo,
              em noite escura ao longe aceso um faro?
              Agora se não vê, ora vê mal.

              Para uns tais olhos, que ninguém espera
              de face a face, gram remédio fora
              acertar o pintor ver-vos sorrindo.

              Mas inda assim não sei que ele fizera,
              que a graça em vós não dorme em nenhuma hora.
              Falando que fará? Que fará rindo?

              Nesse soneto, escrito ao modo petrarquiano, com rimas ABBA nos dois quartetos, o poeta expressa a voz de um eu lírico que, tendo da sua amada apenas um retrato como lembrança, dirige-lhe a interlocução, sem, no entanto, obter resposta. Assim como em outros sonetos do autor sobre temática amorosa, nota-se nesses versos a presença do amor platônico, o qual só tem existência espiritual.
              Acesse também: 5 de maio – Dia da Língua Portuguesa e da Cultura Lusófona

              • Luís Vaz de Camões

              Considerado o mais importante escritor de língua portuguesa, Camões foi o nome mais expressivo do classicismo português. Por serem muito escassos os documentos referentes à vida de Luís Vaz de Camões, estima-se que ele tenha nascido ou em 1524 ou em 1525, em Lisboa, capital de Portugal. Teria cursado Artes no Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra. Ainda jovem, ingressou na carreira militar, tendo servido em Marrocos, onde perdeu o olho direito. Morreu em 1580, em situação de extrema pobreza. Para saber mais sobre a vida e a obra desse autor português, leia: Luís Vaz de Camões.

              • Principais obras de Camões

              → Os Lusíadas

              Selo português em homenagem à obra Os Lusíadas.
              Selo português em homenagem à obra Os Lusíadas.

              Sua obra-prima foi o poema épico Os Lusíadas, publicado em 1572 e estruturado em 10 cantos, nos quais distribuem-se 8.816 versos em oitava rima. Aos moldes das epopeias clássicas, como Odisseia e Ilíada, o poema de Camões contém proposição, invocação, dedicatória, narração e epílogo.

              Narram-se, ao longo dos 10 cantos, os feitos heroicos dos portugueses, os quais, em 1498, lançaram-se ao mar em busca de expansão comercial e territorial, liderados por Vasco da Gama, comandante da expedição que descobriu o caminho para as Índias. Leia a estrofe 3 do Canto I:

              Canto I

              Cessem do sábio Grego e do Troiano
              As navegações grandes que fizeram;
              Cale-se de Alexandro e de Trajano
              A fama das vitórias que tiveram;
              Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
              A quem Neptuno e Marte obedeceram:
              Cesse tudo o que a Musa antígua canta,
              Que outro valor mais alto se alevanta.

              Última estrofe da proposição, tem-se nesses verses a exaltação da empreitada marítima portuguesa, considerada pelo poeta superior às navegações empreendidas pelos gregos, pelo imperador Alexandre, por Trajano. Além dessa comparação que coloca em superioridade os lusitanos, notam-se nesses versos referências à mitologia greco-romana, característica fundamental do classicismo.

              • Poesia

              Na poesia lírica, Camões escreveu poemas em medida velha (redondilhas) e poemas em medida nova (decassílabos), influência dos humanistas italianos, principalmente do poeta Petrarca (1304-1374). Em relação à temáticaseus poemas expressam temas ligados ao neoplatonismo amoroso, à reflexão filosófica e à natureza.

              Quem vê, Senhora, claro e manifesto
              o lindo ser de vossos olhos belos,
              se não perder a vista só em vê-los,
              já não paga o que deve a vosso gesto.

              Este me parecia preço honesto;
              mas eu, por de vantagem merecê-los,
              dei mais a vida e alma por querê-los,
              donde já me não fica a mais de resto.

              Assim que a vida e alma e esperança
              e tudo quanto tenho, tudo é vosso,
              e o proveito disso eu só o levo.

              Porque é tamanha bem-aventurança
              O dar-vos quanto tenho e quanto posso
              Que, quanto mais vos pago, mais vos devo.

              Nesse soneto, o eu lírico tem como interlocutora uma mulher, tratada por “Senhora”, a quem dirige seu devoto amor. Esse amor, porém, parece não ser materializado, ficando restrito ao plano das ideias, ou seja, é um amor platônico. A voz poética expressa sua constante atitude de renúncia e sacrifício em prol desse amor, mas não espera nada em troca, a não ser a satisfação de sempre se ver na necessidade de prestar honras a esse amor.

              Veja também: Verso, estrofe e rima – elementos fundamentais das obras líricas e épicas de Camões

              Exercícios resolvidos

              Questão 1 - (Unama - 2012)

                Sete anos de pastor Jacó servia
                Labão, pai de Raquel, serrana bela;
                Mas não servia ao pai, servia a ela,
                E a ela só por prêmio pretendia.

                Os dias, na esperança de um só dia,
                Passava, contentando-se com vê-la;
                Porém o pai, usando de cautela,
                Em lugar de Raquel lhe dava Lia.

                Vendo o triste pastor que com enganos
                Lhe fora assim negada a sua pastora,
                Como se a não tivera merecida,

                Começa de servir outros sete anos,
                Dizendo: – Mais servira, se não fora
                Para tão longo amor tão curta a vida!

                (Luiz Vaz de Camões, 1524-1580)

                Pela manhã, viu Jacó que tinha ficado com Lia. E disse a Labão: "Que me fizeste? Não foi por Raquel que te servi? Por que me enganaste?"

                (Gênesis, 29: 15-30)

                Per Rachel ho servito e non por Lia.

                (Petrarca, poeta humanista, 1307-1374)

                Os fragmentos dos textos do Gênesis e de Petrarca, numa relação intertextual com o poema de Camões, evidenciam que o poeta português segue o princípio da imitação e aceitação de modelos preexistentes bíblicos, greco-latinos ou humanistas. A esse fenômeno artístico da época camoniana chamamos de

                a) religiosidade.
                b) antiguidade.
                c) racionalidade.
                d) formalismo.
                e) emulação.

                Resolução

                Alternativa “e”. O princípio da imitação de autores antigos consagrados, no Renascimento, é chamado de imitatio ou emulação.

                Questão 2 - (UEL)

                E vê do mundo todo os principais.
                Que nenhum no bem público imagina;
                Vê neles que não têm amor a mais
                Que a si somente, e a quem Filáucia ensina.
                Vê que esses que frequentam os reais
                Paços, por verdadeira e sã doutrina
                Vendem adulação, que mal consente

                Mondar-se o novo trigo florescente.
                Vê que aqueles que devem à pobreza
                Amor divino e ao povo caridade,
                Amam somente mandos e riqueza,
                Simulando justiça e integridade.
                Da feia tirania e de aspereza
                Fazem direito e vã severidade:
                Leis em favor do Rei se estabelecem,
                As em favor do povo só perecem.

                (CAMÕES, L. de. Os lusíadas. Obras. Porto: Lello & Irmão, 1970. p. 1344-1345.)

                Filáucia = amor-próprio

                Mondar = limpar

                O poema de Camões trata de uma circunstância fundamental para os povos de todos os momentos – a moral dos homens públicos.

                Assinale a alternativa que contempla as falhas morais consideradas pelo poeta.

                a) Ganância, gula e devassidão.

                b) Desconsideração, injustiça e autopromoção.

                c) Orgulho, inveja e egoísmo.

                d) Injustiça, egoísmo e fraude.

                e) Cobiça, orgulho e preguiça.

                Resolução

                Alternativa D. O texto menciona claramente os vícios da injustiça: "Leis em favor do Rei se estabelecem / As em favor do povo só perecem"; do egoísmo: "Vê neles que não têm amor a mais / Que a si somente, e a quem Filáucia ensina."; e da fraude: "Vê que esses que frequentam os reais/ Paços, por verdadeira e sã doutrina / Vendem adulação".

                Questão 3 - (Enem - 2010)

                Texto I

                XLI
                Ouvia:
                Que não podia odiar
                E nem temer
                Porque tu eras eu.
                E como seria
                Odiar a mim mesma
                E a mim mesma temer.
                HILST, H. Cantares. São Paulo: Globo, 2004 (fragmento).

                Texto II

                Transforma-se o amador na cousa amada
                Transforma-se o amador na cousa amada,
                por virtude do muito imaginar;
                não tenho, logo, mais que desejar,
                pois em mim tenho a parte desejada.
                Camões. Sonetos. Disponível em: http://www.jornaldepoesia.jor.br. Acesso em: 03 set. 2010 (fragmento).

                Nesses fragmentos de poemas de Hilda Hilst e de Camões, a temática comum é

                a) o “outro” transformado no próprio eu lírico, o que se realiza por meio de uma espécie de fusão de dois seres em um só.

                b) a fusão do “outro” com o eu lírico, havendo, nos versos de Hilda Hilst, a afirmação do eu lírico de que odeia a si mesmo.

                c) o “outro” que se confunde com o eu lírico, verificando-se, porém, nos versos de Camões, certa resistência do ser amado.

                d) a dissociação entre o “outro” e o eu lírico, porque o ódio ou o amor se produzem no imaginário, sem a realização concreta.

                e) o “outro” que se associa ao eu lírico, sendo tratados, nos Textos I e II, respectivamente, o ódio e o amor.

                Resolução

                Alternativa A.